A Revolução de 25 de Abril de 1974 consagrou o direito à habitação como um pilar de cidadania em Portugal. 51 anos depois, os desafios persistem — do acesso à habitação à pressão urbana e ao desequilíbrio territorial. Mas há um fator histórico com influência profunda e contínua sobre o setor que raramente é debatido: o impacto estratégico da emigração portuguesa no imobiliário nacional.

A força estrutural da emigração portuguesa no mercado habitacional
Logo após a revolução, o regresso dos retornados das ex-colónias provocou uma pressão abrupta sobre o parque habitacional urbano, acelerando construções emergenciais, muitas vezes sem planeamento adequado.
Nas décadas seguintes, centenas de milhares de portugueses emigraram para países como França, Suíça, Alemanha, Canadá e Luxemburgo. Este fluxo migratório criou uma economia paralela baseada em remessas e no investimento na terra natal:
- Compra de terrenos e autoconstrução em zonas rurais
- Construção de casas familiares para regresso ou férias
- Forte cultura de propriedade como símbolo de sucesso e estabilidade
Segundo o Banco de Portugal, as remessas da emigração ultrapassaram os 3,6 mil milhões de euros em 2023, sendo uma parte canalizada para compra, construção ou reabilitação de imóveis em Portugal.
2025: uma nova geração de emigrantes, novos padrões de habitação
Com a aceleração do trabalho remoto, a digitalização dos serviços e o custo crescente da habitação noutros países, muitos emigrantes e luso-descendentes estão a regressar, a investir ou a dividir residência entre países.
Portugal tornou-se atrativo não só emocionalmente, mas estrategicamente, para quem procura:
- Segurança
- Clima e qualidade de vida
- Mercado imobiliário mais acessível comparado com grandes capitais europeias
Inovação habitacional com foco na diáspora: oportunidades concretas
O setor de tecnologia e inovação imobiliária pode gerar valor real se integrar a diáspora como segmento estratégico. Algumas direções claras:
- Plataformas de investimento remoto para emigrantes, com processos legais e fiscais simplificados
- Modelos híbridos de habitação (uso próprio + rendimento passivo) para residentes entre países
- Soluções de financiamento específicas, com validação de rendimentos no estrangeiro
- Ferramentas digitais de reabilitação habitacional à distância, com ligação a construtores, municípios e técnicos
Conclusão: da invisibilidade à liderança
A emigração portuguesa foi — e continua a ser — uma força invisível, mas estruturante no setor imobiliário nacional. Do pós-25 de Abril à era digital, ajudou a construir bairros, a financiar casas e a manter vivas regiões interiores.
Hoje, com os desafios do acesso à habitação e da sustentabilidade urbana, é tempo de trazer a diáspora para o centro da estratégia: como investidora, utilizadora e cocriadora de soluções habitacionais inovadoras.
O futuro do imobiliário português pode muito bem passar por quem nunca deixou de olhar para Portugal — mesmo à distância.